sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Intertextos Fotográficos


Conforme me comprometi no post anterior, publico aqui as duas fotos que foram apresentadas na exposição INTERTEXTOS FOTOGRÁFICOS, de curadoria de Rogério Entringer, fruto da oficina TEORIAS NA FOTOGRAFIA CONTEMPORANÊA, ministrada pelo próprio Rogério.


Como muito bem diz a artista plástica Paula Pittia, “arte não se explica, pois seu papel é tirar o espectador do comodismo”.

Porém me senti na obrigação de explicar as propostas das fotos, não por subestimar a cultura geral de quem foi à exposição ou eventualmente visita este blog, mas sim porque estas fotografias nada têm com a minha fotografia usual.

A idéia desta exposição era de tecer ligações entre a fotografia e outras artes, seja cinema, teatro, literatura, música ou até mesmo a própria fotografia – Enfim, alguma referência.

Desta forma, encarei a produção como encomendas. Nada têm de “produção autoral”, fiz da proposta da exposição o meu briefing.


PRETENSÕES: O ENCONTRO DE RODIN, LACHAPELLE E WARHOL



Para esta foto, chamei para posar André Malavazzi , fotógrafo em formação, atuando em Campinas, que prontamente entendeu e aceitou o convite.

Aposto muito em seu trabalho. Tive a oportunidade de conhecer algumas de suas fotos e seu olhar segue um caminho interessante.

A idéia original era a de se fazer completamente nu. Apesar da pose não ser nada "agressiva" mesmo aos mais puritanos, fizemos de sunga porque o curador tem a intenção de levar esta exposição para faculdades, escolas, enfim, outros espaços, com diferentes públicos.


O mais óbvio intertexto desta fotografia é com O PENSADOR, do escultor francês August Rodin.

O segundo, mais subjetivo, é com A FONTE, de Marcel Duchamp, um dos precursores da arte conceitual, introdutor do “ready made” como arte.

Outra referência que busquei foi no trabalho do fotógrafo David LaChapelle, cujo trabalho conheci mais a fundo através do seu excelente livro HEAVEN TO HELL.

Suas cores, montar o inusitado, o flash direto, me deixaram chapados logo nas primeiras fotos que tive contato. Praticamente não há edição pós captura, tudo é feito diante da lente.

Também faço uma referência a Andy Warhol, artista ultra pop, através da banana, usada na capa do álbum The Velvet Underground & Nico.

O que não entendi é porque justamente ele, que mudava as cores de tudo o que trabalhava, manteve o amarelo da banana. Só para contrariar, fiz em azul.

Ao fundo, a foto do Joseph Niepce faz referência a minha própria foto: A dele foi a primeira da história, e esta foi a minha primeira feita especificamente para uma exposição deste contexto, não apenas pinçada dos meus arquivos para apresentar.

Já a famosa foto de Henri Cartier-Bresson foi pura reverência, não referência, já que sua fotografia me fascina desde sempre.


Aqui vai uma colagem das referências que utilizei:



Fiz uma segunda foto neste ensaio, não exposta, onde o André segurava um balde de lixo de inox nas pontas dos dedos, fazendo uma referência ao desenho em perspectiva em que M.C. Escher segurava um globo espelhado que refletia sua imagem numa sala.


REMONTANDO O BEIJO MONTADO



Depois de décadas, Robert Doisneau declarou que a famosa foto O BEIJO NO HOTEL DE VILLE foi montada, não capturada num "instante decisivo bressoniano", uma de suas marcas.

Nada que tenha mudado a importância daquele disparo, que por muito tempo simbolizou o clima de alegria pelo final da guerra.


Quando estive em Paris e estava em frente ao Hotel, me lembrei da clássica foto e circulei um pouco, buscando o mesmo ângulo que Doisneau usou para fotografar o casal em 1950.

Na verdade, minha vontade era a de ser o modelo desta foto, junto da Alessandra - Queria uma foto para porta retratos mesmo.

Enfim, encontrei a face do prédio que fora fundo do beijo e disparei. Obviamente não consegui o mesmo ângulo, mas montando sobre a original, Rogério, como curador, achou interessante o suficiente para que fosse exposta.